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Megalópolis 50 anos depois: problemas e desafios continuam os mesmos?


Crescimento desordenado. Problemas de locomoção. Grandes empresas. Essas são algumas das características encontradas na Megalópole pensada e apresentada por Leon Hirszman em seu filme Megalópolis, de 1973. Como um produto cultural de seu tempo, o curta documentário pensa o futuro das cidades e como elas podem crescer e, assim, se tornarem cada vez mais complexas.


O filme foi elemento disparador de conversa com os integrantes do primeiro curso "Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo", promovido pelo Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) em parceria com a OBORÉ no âmbito do Projeto Repórter do Futuro. A atividade conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.



Com mediação dos jornalistas Oswaldo "Colibri" Vitta e Sergio Gomes, os participantes conversaram com o arquiteto e urbanista Ciro Pirondi, um dos fundadores da Escola da Cidade e diretor da Fundação Oscar Niemeyer.


Apesar dos cinquenta anos que separam o lançamento do filme de Hirszman e o momento atual, Pirondi ressaltou que existem ali muitos elementos que são candentes e extremamente atuais. Mesmo que alguns elementos estivessem apresentados de maneiras distintas, alguns elementos como mobilidade urbana e locomoção das pessoas ainda não foram superados, afirmou o arquiteto.


"São Paulo desloca aproximadamente 4 milhões de pessoas todo dia. Todo dia deslocamos uma Barcelona quase inteira, fazemos entrar e sair da cidade", afirmou Ciro.


Esse fluxo de deslocamentos também se reflete em outra questão: habitação. O arquiteto ressaltou que atualmente existem na cidade espaços que poderiam ser melhor aproveitados para a criação de moradia, ao invés de insistir que essa grande quantidade de pessoas se desloquem tanto para ir ao trabalho, por exemplo. "Fazemos cada vez mais habitações longe, tendo espaços vazios com infraestrutura [no centro expandido] que foi paga ao longo do século".


Cada vez mais complexas, as megalópoles apresentam problemas que se misturam entre diferentes áreas. Uma preocupação deste tempo é a crise climática, que se relaciona muito com conceitos de justiça social. Ciro Pirondi ressaltou que esse agravamento das questões climáticas continua sendo feito pelos países ricos, impactando países pobres.


"Se nós continuarmos nesse processo - que fizemos ao longo da história, impermeabilizando os rios, ocupando as montanhas de maneira desordenada -, só estamos ajudando a agravar esse desmantelamento das questões climáticas e injustiças sociais", disse o arquiteto.

Se fosse possível refazer o documentário de Hirszman, Ciro destaca que hoje ele seria ainda mais grave. "Não estamos conseguindo, apesar da luta de muita gente para reverter esse quadro. Parece que voltamos para trás", disse.

O que é possível fazer, segundo o arquiteto, é entender que "só o trabalho humano pode mudar alguma coisa", tendo uma crença definitiva na ciência, ou seja, na capacidade técnica do ofício e pensar as cidades de maneira multidisciplinar.


Ciro Pirondi afirma que até o momento, a cidade que foi construída não deu certo. "Nós não fizemos a cidade vitalizar. A possibilidade de troca espiritual e afetiva, não soubemos fazer a cidade assim. Fizemos cidades difíceis e valorizamos coisas que não deveriam ser valorizadas. A minha proposta sempre é deixar por último o transporte individual e em primeiro o pedestre. Temos que assumir que erramos muito".


Ele ressalta a necessidade de resgatar o belo, que em sua opinião ficou relegado a uma posição inferior, como se fosse menos importante. A dimensão simbólica, do ponto de vista do arquiteto, é tão importante quanto a física. "As nossas cidades ficaram feias porque achamos que a beleza é supérflua e esquecemos que ela faz parte da dimensão humana".

O curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo é uma proposta de exercitar o olhar para ver a cidade a partir de obras cinematográficas produzidas ao longo do tempo.

Na próxima semana, os participantes vão conversar sobre Educação a partir do filme Vocacional - uma aventura humana (2011), de Toni Ventura. O mediador Colibri entrevista o diretor do filme. Em seguida, o educador e pesquisador Elie Ghanem profere Conferência de Imprensa e participa da Entrevista Coletiva.



 

Sobre o filme Vocacional – uma aventura humana | 2011 | Brasil |97 min | Documentário | Direção: Toni Venturi.

O cineasta Toni Venturi revisita uma página emocionante e ignorada da história da educação pública no país: os seis ginásios Vocacionais do estado de São Paulo, que na década de 1960 foram reprimidos pela ditadura militar. Concebidos por Maria Nilde Mascellani, uma das mais importantes educadoras brasileiras, os colégios tinham uma proposta à frente do seu tempo: fazer o aluno pensar, trabalhar em grupo e desenvolver a sensibilidade artística e as habilidades técnicas. Partindo do olhar pessoal do diretor, que participou dessa experiência escolar, através do depoimento de vários ex-alunos e ex-professores, o documentário contribui para a compreensão sobre a precariedade do ensino público atual e seus desafios para o futuro.

Sobre o curso Neste novo curso do Projeto Repórter do Futuro, os alunos serão convidados a assistir filmes, participar de debates, reflexões e entrevistas coletivas com especialistas sobre as obras cinematográficas e as temáticas envolvidas na programação, além de produzirem, durante o percurso, trabalhos jornalísticos que deverão ser publicados em diferentes formatos e plataformas (textos, vídeos, áudios, entre outros). As atividades serão desenvolvidas até final de janeiro de 2022.

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